Depois do bebe sem rosto…

…encontram um bebe no contentor do lixo. 🙁

Ao contrario da maioria não me sinto capaz para tecer qualquer tipo de opiniao, deixo-vos apenas com um texto carregado de verdades para lerem e reflectirem… porque me revi muito nele. :'(

ESTA CEGUEIRA QUE NÃO SARA
Da Sara sabe-se que tem 22 anos, que é de origem cabo-verdiana, diz-se que se prostituía, vivia na rua numa miséria total ali para os lados da Estação de Santa Apolónia. A Sara carregou no ventre uma criança durante nove meses. A Sara é invisível. Ou pelo menos durante nove meses a Sara foi invisível. Os elementos das equipas de apoio social não a viram. Os passageiros que circulam aos milhares em Santa Apolónia e nas imediações não a viram. Os habitantes de Lisboa não a viram. Ninguém a viu. Podemos ter-lhe passado os olhos por cima mas não a vimos realmente. Não a vimos porque somos cegos. Somos todos uns cegos, sofremos de uma cegueira suprema, aquela cegueira de que se padece quando não se quer ver, a tal que é a pior de todas as cegueiras na velha sabedoria do povo. A Sara pariu um menino a quem foi dado o nome de Salvador, na vaga esperança de salvarmos a nossa alma das culpas que todos temos de ter sido depositado num contentor de lixo. Toda a gente vê agora a Sara. O Presidente da República vê a Sara. A Embaixada de Cabo Verde vê a Sara. O sistema político vê a Sara. Os jornais vêem a Sara. Perdemos a cegueira perante a Sara e perdemos a vergonha na cara. Fazemos suposições, dizemos que jamais seríamos capazes, especulamos sobre a conjuntura que terá levado a Sara a deitar no lixo um recém-nascido, que pariu sozinha na rua, ali mesmo ao lado do Lux, uma das mil feiras de vaidades de Lisboa. Falamos disso tudo como se tivéssemos conhecimento de alguma coisa, como se fossemos alguém para julgar, como se tivéssemos direito a isso. Somos uma merda. Somos todos uma merda. Há centenas de Saras por aí, neste exacto momento em que chove e faz frio. Centenas de adolescentes e jovens adultas a viver em condições infra-humanas. E são todas invisíveis. Fugimos delas. Não tiramos os olhos dos nossos umbigos, não tiramos os olhos do telemóvel, não tiramos os olhos dos nossos problemas fúteis, não tiramos os olhos das redes sociais que nos distanciam da sociedade, da merda do Facebook onde escrevo este desabafo. Há tantas Saras que pedem ajuda com os olhos, de mão estendida, e nós não as vemos. E há tantos Salvadores por aí que nunca conheceremos. Não queremos conhecer. Fugimos, temos medo de ver a verdade, temos nojo do que fedem, temos pavor de os abordar. Deixamo-los de lado, à margem. Ficam para os outros, para aquela meia dúzia que ajuda os pobrezinhos e está tudo bem. A alma está limpa. E já há luzes de Natal. E vamos lá pensar nas prendas e em estoirar dinheiro.

Deixo-vos com a opinião da Dra. Suzana Garcia.

https://tvi.iol.pt/vocenatv/videos/suzana-garcia-pode-haver-um-homem-que-ontem-sem-saber-se-tornou-pai/5dc40fdb0cf24b90b3857682

E mais uma vez o problema está na sociedade actual… 🙁

Imagem retirada do Google

About Matilde Ferreira

6 thoughts on “Depois do bebe sem rosto…

  1. Andreia Morais

    Tenho acompanhado o caso com algumas falhas, por isso, não consigo formular um parecer justo. No entanto, acho que somos demasiado rápidos a julgar, a condenar, quando deveríamos compreender tudo o que desencadeou toda esta situação :/

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